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VÍDEO: indústria cresce mais de 10% em empregos na última década

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Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

Quem é de Santa Maria sabe, e não é de hoje, que o município não concentra um grande parque industrial a exemplo do que se tem na Serra gaúcha ou na Região Metropolitana. Mesmo assim, deu, na década passada, o primeiro passo no que pode ser considerado o começo de uma consolidação. No endereço da indústrias, sejam elas locais ou que para cá vieram, o Distrito Industrial (DI) concentra mais de 40 empresas que, juntas, empregam mais de 2,6 mil pessoas.



Ao se considerar o total de beneficiados - entre empregos diretos, indiretos e dependentes -, o número passa das 5 mil pessoas. Além de gerar, anualmente, em média mais de R$ 200 milhões em impostos. A reportagem de hoje aborda os desafios, as potencialidades e onde ainda há margem para avançar e, principalmente, como superar eventuais entraves e gargalos do setor.

NOVA DÉCADA
A década que se inicia é promissora para o segmento industrial de Santa Maria. Os números, da Associação Distrito Vivo, que reúne as associadas ligadas ao DI, corroboram essa percepção. Ao olhar o histórico dos últimos 15 anos, percebe-se uma escalada constante e crescente da indústria santa-mariense. No nem tão longínquo 2004, as empresas somavam entre 500 a 800 postos de trabalho. Quase 10 anos depois, esse número mais que triplicou. O setor da indústria representa por 10,7% na geração de postos de trabalho. Fatia que torna-se ainda mais expressiva ao colocar na balança outro braço forte do segmento - a construção civil - que representa mais 6%. 

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Porém, o 2019 não foi nada bom para a indústria que, conforme o Caged, teve o corte de 128 postos de trabalho. Aliás, o setor vem em uma espiral de fechamento de vagas. A efeito de comparação, em 2018, a indústria perdeu 78 oportunidades.

DIFERENCIAÇÃO
Porém, a característica da indústria local - ao contrário de outros municípios, que acabam sendo segmentados (voltados, muitas vezes, apenas para uma área) - é que, aqui, ela é diversificada. Nesse leque, estão inseridas empresas dos segmentos alimentício, de bebidas, de embalagens plásticas, de logística e distribuição, gráfica, materiais de construção, metal-mecânico, moveleiro, químico, base tecnológica e, inclusive, formação e aprendizagem industrial.

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Essa característica própria, no entendimento do diretor da Associação Distrito Vivo, o empresário Gabriel Trevisan Neto, possibilita "uma certa estabilidade na economia da cidade ainda que em períodos de crise":

- Obviamente que toda crise deve ser observada frente a um determinado contexto, e que nem sempre se repete. Mas é essa diversificação industrial que, de certa forma, equilibra o cenário econômico da cidade.

NENHUMA GIGANTE
Ainda que Santa Maria não tenha uma grande indústria, o DI comporta, na maioria, empresas de pequeno e médio porte. Trevisan Neto, que é dono de uma empresa que fabrica implementos rodoviários, afirma que a diversificação do parque industrial local é algo que pode ser "mais e melhor explorado".

- Até pode prevalecer, para a maioria das pessoas, que Santa Maria não tem uma grande indústria. Mas o fato é que se tem, e não é de hoje, uma indústria que tem se mostrado pujante, crescendo e muito relevante.

PERCEPÇÃO
Trevisan Neto, contudo, ressalva ao que, no entendimento dele, é uma percepção equivocada de que a economia de Santa Maria gravita apenas em torno da UFSM, das Forças Armadas ou do funcionalismo público:

- É claro que esses atores são expressivos. Mas não se pode esquecer ou desdenhar a indústria que integra a engrenagem da economia do município. Ela é um importante pilar.

RADIOGRAFIA DO DISTRITO INDUSTRIAL EM SANTA MARIA*
Números da Associação Distrito Vivo:

  • A área situada no bairro Agro-Industrial, região oeste, conta com 329 hectares
  • Há, no momento, 41 empresas
  • Juntas, empregam mais de 2,6 mil pessoas
  • Ao contabilizar o número de pessoas beneficiadas pelo DI (entre funcionários diretos, indiretos e dependentes) são mais de
  • 5 mil
  • As empresas situadas no DI são dos mais variados ramos: alimentício, bebidas, embalagens plásticas, logística e distribuição, gráfica, materiais de construção, metal-mecânico, moveleiro, químico, base tecnológica e, inclusive, formação e aprendizagem industrial
  • Em 2018**, as 13 empresas da 30 que são ligadas na Associação Distrito Vivo geraram em impostos federais, estaduais e municipais R$ 260,4 milhões
  • Deste total de impostos, R$ 124,2 milhões no Brasil, R$ 135,7 milhões no Rio Grande do Sul, e R$ 469,4 mil em Santa Maria

*Com da Associação Distrito Vivo
**O levantamento de 2018 é parcial

Sustentabilidade para evitar "bolhas" de crescimento
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Ewerton Falk, que também é empresário do setor de serviços, acompanha, nos últimos anos, o crescimento industrial da cidade. Para ele, o cenário aponta para uma base bem sólida. O entendimento, assevera, leva em conta "a sustentabilidade nos empregos gerados":

- A participação da indústria, no PIB local, é constante e com segurança. Ou seja, não há nenhuma bolha de crescimento. Não se teve nenhum boom expressivo de postos de trabalho tampouco uma queda preocupante. Isso aponta que ela (indústria) se desenvolve de forma sustentável.

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A questão de a cidade não ter uma tradição industrial é relativizada por Falk, que diz que o município - em uma aproximação entre poder público e empresariado - aponta para outros caminhos e iniciativas que despontam para incrementar a economia local. Um desses braços é o próprio setor da inovação, onde serviços e produtos se originam no binômio conhecimento/tecnologia.

- Essa é uma indústria silenciosa e de alto valor agregado. A indústria, propriamente dita, é sempre quem mais sofre com os ciclos econômicos. Então, a nossa (indústria) por ser diversificada, de certa forma, sente menos esses baques - avalia.

CARRO-CHEFE
O presidente da Cacism, Luiz Fernando Pacheco, avalia como a indústria local ainda incipiente. Contudo, ele ressalva para o que ele chama de carro-chefe da indústria: a construção civil.  

- O grande setor da indústria é o da construção civil. Até porque ela não polui e tem uma cadeia produtiva muito grande - afirma Pacheco.

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Além disso, Pacheco sustenta o entendimento de que a construção civil tem uma capilaridade maior junto aos mais variados nichos da sociedade:

- Nenhum outro setor, como a indústria da construção civil, oferta bom salário a uma parcela da sociedade com baixa escolaridade. É o carro-chefe, as demais ainda são incipientes.

A construção civil, em 2019, gerou quase novos 110 postos de trabalho. Um saldo bem melhor que 2018, quando cerca de 30 postos foram fechados.  

Caminhos alternativos e viáveis existem e passam pela rede de hotelaria da cidade e região, avalia especialista
O economista Daniel Coronel projeta que Santa Maria pode fazer do turismo algo que, a médio prazo, alavancaria a economia local. Segundo ele, há um leque a ser explorado e que, até o momento, se mostra em um latifúndio extremamente produtivo. Ainda que Santa Maria, em um primeiro momento, possa não figurar "na lista de locais e destinos turísticos", o economista explica "onde está o filão a ser desbravado":

- A indústria do turismo deve e pode ser muito mais bem explorada e tem um extremo potencial. Veja, por exemplo, que Santa Maria pode ser o ponto de partida para quem queira conhecer a Quarta Colônia e demais municípios do entorno. Santa Maria pode ser a cidade-satélite para conhecer a região. Sem dizer que há um outro nicho, ainda inexplorado, que é o paleontológico. Somos uma referência nessa área. E isso, sendo bem construído, traria um retorno incrível para Santa Maria e região.

Para que se dê a largada nessa construção de uma realidade turística da cidade, o economista fala que o poder público local e os segmentos afins devem viabilizar uma articulação para que haja uma integração efetiva. Assim, então, seria possível construir uma cadeia turística junto ao setor hoteleiro daqui.

AVANÇOS E ATRAÇÃO
Para José Rafael D'Império, que é sócio de uma rede hoteleira na cidade e diretor de hotéis da Associação de Hotéis, Restaurantes, Agências de Viagens e Turismo de Santa Maria (AHTurr), o setor, nos últimos anos, cresceu e se qualificou. Há, hoje, cerca de 3 mil leitos em 20 hotéis. Porém, D'Império acredita que o maior desafio é fazer com que a cidade passe a ser atrativa para eventos e, em específico, educacionais e científicos. Isso, segundo ele, observa a própria UFSM, a UFN e as demais instituições de Ensino Superior.  

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O público, na maioria, é corporativo e ligado aos negócios. O que, na prática, traz uma taxa elevada de ocupação da rede hoteleira em apenas dois dias da semana. Ou seja, há ainda margem para tornar o setor mais pujante.

A rede hoteleira aguarda com expectativa a ampliação do aeroporto municipal - investimento da União de R$ 10,5 milhões - que possibilitará fazer com que Santa Maria tenha voos diretos para o sudeste (RJ e SP). Sobre isso, D'Império acredita que será um ganho importante à economia local.

Economista alerta para o risco de ficar "refém" de um segmento
O professor do departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM, Daniel Coronel, compactua do entendimento de que, realmente, a indústria local é, de certa forma, diversificada. Situação que ele observa como benéfica em uma análise macro. Porém, segundo ele, Santa Maria precisa se mostrar atrativa a quem queira empreender - seja daqui ou de fora - no município. Essa mudança de comportamento, destaca, passa por um poder público menos burocrático e, principalmente, mais próximo do mercado. Ou seja, um ambiente em que prevaleça o meio-termo: 

- A cidade precisa ser atrativa a quem queira investir nela, isso é primordial. A indústria local, por ser diversificada, traz um ganho à economia local. Veja, por exemplo, que muitas cidades que dependem apenas de um segmento ou de um setor, elas ficam muito mais à mercê. Ficar refém de um único segmento é temerário. 

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O empresário Júlio Kirchoff, que preside o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Santa Maria (SIMMMAE), afirma que, mesmo que Santa Maria não tenha um polo industrial invejável, com a presença de empresas de destaque nacional ou internacional, o município precisa seguir percorrendo o caminho em busca de uma diversificação da matriz econômica.

- A diversificação é positiva e benéfica. Claro que temos gargalos como a falta de mão de obra qualificada e a evasão de profissionais qualificados que se formam em Santa Maria, mas que acabam indo embora daqui. E essa evasão se dá porque muitos entendem que, pelo fato, de não termos, em tese, uma tradição industrial, não há oportunidades na nossa indústria. É algo comportamental e que precisa ser trabalhado e mudado.

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